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SEIS FATOS IMPORTANTES A RESPEITO DAS PROFECIAS BÍBLICAS (Parte 2)

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Além do que apresentamos anteriormente, também estes são aspectos importantes envolvendo as profecias bíblicas

 

 

4.         A profecia pode apresentar múltiplos alcances

 

Ezequiel 28 e Isaías 14 são exemplos importantes nesse aspecto da profecia. Em um primeiro momento esses textos falam sobre o rei de Tiro e sobre o rei da Babilônia respectivamente. Fala de sua queda e derrota, descrevendo ainda certos aspectos de seus caracteres

Todavia, um sentido mais profundo pode ser percebido. Esses textos geralmente são tomados como referência a Satanás, que teria enchido seu coração de soberba, se rebelado contra Deus e banido de sua posição. Essa interpretação é sancionada pelo Novo Testamento (1 Tm 3.6). E ainda o próprio texto fornece essa possibilidade, uma vez que certas afirmações parecem não se ajustar ao perfil dos reis referidos. Chamar de querubim, perfeito nos caminhos, presente no Éden, almejar superioridade acima de Deus parecem indicar algo além desses soberanos.

A profecia de Natã para Davi pode também ilustrar essa característica do texto profético. Em Samuel 7.12-14 podemos ter uma descrição do rei Salomão, o filho de Davi que o sucedeu no trono. Todavia, o Novo Testamento também sanciona essas palavras como uma referência ao próprio Jesus (Hb 1.5)

 

5.         As profecias podem conter hiatos

 

Imagine alguém olhando uma cadeia de montanhas. Elas parecem estar todas juntas, quando na verdade há um grande vale entre elas. Da mesma forma algumas profecias podem falar de vários eventos como se fossem sucessivos, quando na verdade há entre elas um intervalo significativo de tempo. Tomemos a profecia de Isaias 61 como exemplo:

O Espírito do Senhor JEOVÁ está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus;

Quando Jesus utiliza essa passagem na sinagoga de Nazaré e confirma o cumprimento dela sobre sua própria vida, ele não cita a parte final “... o dia da vingança do nosso Deus”, interrompendo a citação falando sobre o ano aceitável. Hoje entendemos que esses acontecimentos estão separados por muitos séculos. O tempo da ira se manifestará no retorno do Messias e portanto sua primeira vinda traria apenas o anos aceitável. Embora uma profecia possa conter vários elementos preditos, isso não significa que todos tenham de se cumprir simultaneamente ou sucessivamente, podendo apresentar intervalos entre as diversas referências.

 

6.         As profecias podem ter diversos cumprimentos

           

O recente retorno dos judeus à sua terra é o cumprimento das profecias do Antigo Testamento? Ou esse evento da Era Contemporânea nada tem haver com os textos dos profetas, uma vez que já houve um retorno depois do Cativeiro Babilônico narrado em Esdras e Neemias? Essa questão pode nos ajudar a entender um pouco mais da hermenêutica dos escritos proféticos.

Sobre o assunto do retorno dos judeus à sua terra, nós temos diversas profecias. Podemos citar uma do profeta Isaías:

Isaías 43.5,6 na qual está escrito: Não tenhas medo, pois eu estou com você, do oriente trarei seus filhos e do ocidente ajuntarei você. Direi ao norte: Entregue-os! E ao sul: Não os retenha. De longe tragam os meus filhos, e dos confins da terra as minhas filhas.

Se o atual retorno dos judeus à sua terra de origem não é o cumprimento das profecias, do que se trata então? Se o retorno sob Zorobabel e Esdras tinha um caráter profético, por que o atual seria diferente? Muitas profecias tiveram cumprimento duplo ou triplo e, portanto não se pode esgotá-las em um único evento. Israel vive dentro do horizonte móvel da promessa, onde os eventos devem ser entendidos como estações numa caminhada, como momentos em um processo que continua (Junger Moltann, Teologia da Esperança, Editora Teológica, 2003). O atual retorno é uma prova de que este processo ainda não chegou ao seu fim.

Além do mais, aqueles que assim raciocinam, demonstram ter pouco conhecimento dos princípios que regem as profecias bíblicas. Estas podem ter diversos cumprimentos ao longo do tempo, até chegar a um cumprimento pleno. Um exemplo disso é a forma como os judeus entenderam as profecias de Isaías sobre novos céus e nova terra. Era o seu retorno após o exílio babilônico. Para eles, a promessa de Isaías 65.17 onde diz: Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra, e as coisas passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente! Era uma garantia de seu retorno à Terra de Israel. Posteriormente “novos céus e nova terra” está ligado com a recriação do próprio universo. A mesma expressão em Apocalipse 21.1 tem um significa mais amplo e aguarda um novo cumprimento, agora abrangendo todo Universo Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.

A dispersão e ajuntamento de Israel, longe de ser um tema restrito aos profetas como julgamento por sua apostasia, faz parte das previsões divinas desde o princípio. No Pentateuco já havia diversas referências à sua dispersão e posterior ajuntamento. Não há motivos para considerar apenas uma dessas ocorrências como sendo o cumprimento das profecias, e os demais eventos como caso à parte, divorciado da Palavra. Não se pode limitar o cumprimento das profecias a um único evento.

Há dois casos que merecem ser analisados neste foco. Um deles é o cerco predito em Dt 28.52-57 e o seu cumprimento no cerco de Samaria em 2 Rs 6.28,29. Posteriormente há outro cumprimento no cerco de Jerusalém, conforme Lamentações 4.10,11. Mesmo esse momento histórico não esgotou o assunto, pois em 70 d.C. tornou a ocorrer, agora não com registro bíblico, mas com minucioso registro através de Flávio Josefo, historiador judeu contemporâneo ao evento e testemunha ocular do mesmo (Guerras Judaicas, Livro VI Capítulo 21.456).

Portanto, este é um exemplo de uma profecia se cumprindo pelo menos três vezes ao longo do tempo, sendo que um dos cumprimentos ocorre no período pós-bíblico da história judaica.

Da mesma sorte, a predição de Daniel sobre a abominação no Lugar Santo não teve seu cumprimento esgotado com o fato de Antíoco Epifánio ter colocado a estátua de Júpiter no local mais sagrado do judaísmo, depois de ter sacrificado um porco no altar. Se assim fosse, Jesus não poderia ter citado essa mesma passagem como tendo um cumprimento futuro (Mt 24.15).

Não há motivos para separar a “Aliá” (subida, retorno de Israel) destes últimos tempos como um evento diferente do que aconteceu em períodos anteriores, divorciando-o das milenares profecias bíblicas. Só é possível vê-lo como um verdadeiro milagre histórico, de suma importância, que jamais deveria ser tratado como evento de pouca ou nenhuma importância.

Esses são alguns pontos a serem considerados quando estudamos as profecias. Esses exemplos servem para mostrar que esgotar ou desconsiderar um novo cumprimento em nossa época não foge do padrão normal das predições divinas. Fazem parte das regras hermenêuticas para interpretação desse tipo de literatura específica da Bíblia – os textos proféticos.

helio2016

Pr. Eguinaldo Hélio de Souza

Escritor, apologeta e mestre em teologia

(www.devocionaiseesbocos.wordpress.com)