Os filhos, automaticamente, olham para seus pais procurando neles espelhar se. Eles são a maior plateia de seus pais, ou de quem em seu lugar esteja, pois são o primeiro contato com sua espécie.
Em tenra idade eles imitam até mesmo os trejeitos dos pais, que são vistos como heróis infalíveis. Afirmam a quem for: “Se meu pai (ou mãe) falou, é verdade!”. E não há discussão.
Enquanto crescem, vão aprendendo procedimentos, atitudes, reações em todas as áreas de relacionamento, inclusive na forma como os pais se comunicam com Deus. Mais tarde, porém, especialmente na adolescência, começam a questionar as decisões e postura de seus pais, anteriormente heróis. O que lhes parecia verdade absoluta se torna relativa. Nessa fase os pais precisam ter cuidado com suas motivações, inclusive as pessoais. Eles estão sempre em alerta, observando tudo dentro e fora de casa. E é nesse período que muitos pais são rebaixados de heróis a vilões! Por isso digo que não há como exagerar a importância do exemplo dos pais na vida de seus filhos.
Naturalmente, somos humanos e falhos. Devemos procurar acertar, ser íntegros, honestos, pedir perdão e perdoar, quando necessário. O adolescente, de forma geral, é muito suscetível à falsidade. O “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona nessa idade.
Digo isso com base em experiência própria, pois, infelizmente, meu pai não foi um exemplo positivo em nossa casa. Não posso, porém, ser muito rigoroso, pois creio que ele não sabia como desempenhar adequadamente seu papel de líder, marido e pai. Minha mãe também era uma pessoa complexa, de difícil convívio. Ela levou, ao casar-se com meu pai, os filhos de seus outros casamentos, os quais não aceitavam meu pai. Essas lembranças, então, me encorajam a reafirmar que os pais devem procurar dar o melhor exemplo que puderem. Hoje temos inúmeros livros cristãos sobre como educar os filhos seguindo princípios bíblicos, cursos e seminários para a família e muitas oportunidades de aconselhamento. Devemos utilizar todos esses recursos para que, quando o inevitável acontecer, ou seja, nossos filhos repetirem nossas ações, fiquem orgulhosos e não envergonhados. Nossa motivação para sermos bons pais e darmos orientações eficazes para nossos filhos não se limitam a eles, mas estende-se também, a nossos netos, pois quando os filhos crescem, a tendência é que tenham uma entre duas reações:
1. Revolta contra o exemplo negativo – “Nunca tratarei meus filhos assim!”.
2. Repetição dos mesmos erros cometidos pelos pais – “Fui criado assim, vou fazer o mesmo com meus filhos!”. Tais atitudes podem até ser inconscientes, mas é o que costuma ocorrer.
Sei que não fui e nunca serei um pai perfeito, pois sou humano como você, mas continuo procurando acertar. Às vezes consigo, às vezes não. Nem sempre conhecer e seguir as regras nos garante resultados, mas pelo menos sabemos por onde caminhar. Deixe-me compartilhar alguns pontos importantes:
1. Seja modelo positivo
Já falei bastante sobre isso, mas o tema é inesgotável. O caráter e os valores cristãos se desenvolvem muito pela observação e imitação que os filhos fazem dos pais.
2. Invista tempo com a família
É fundamental para que se desenvolva nos filhos sentimentos de unidade familiar, com amor e cuidados recíprocos. São momentos preciosos em que os pais podem se aproximar de seus filhos informalmente e conhecê-los melhor, observar-lhes as motivações, a conduta, o relacionamento entre os irmãos, com Deus etc. Os pais devem ser modelo desse caráter cristão que desejam que seus filhos desenvolvam.
3. Proporcione um ambiente de intimidade saudável
A sociedade tem deturpado o verdadeiro significado e a real motivação da intimidade, associando-a somente a romances eróticos e a encontros amorosos. Isso provoca na mente dos adolescentes e jovens a ideia equivocada (e depois vira convicção) de que a intimidade só é desfrutada na relação sexual.
Certa vez uma garota a quem aconselhei deu-me uma definição de intimidade que me marcou: “Intimidade é a capacidade de ser autêntico, transparente e de não possuir qualquer reserva em relação à outra pessoa”. Ser íntimo significa estar ligado a alguém por laços de confiança, carinho e compromisso. Esse sentimento precisa existir no contexto familiar, entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre irmãos. Essa intimidade gostosa entre a família pode evitar que haja entregas físicas precoces, em busca de aconchego. Se não houver essa intimidade em casa, provavelmente não se encontrará em nenhum outro lugar.
4. Crie um ambiente seguro
O caráter cristão e os valores morais se desenvolvem em um ambiente de segurança. Crianças e adolescentes não estão preparados para enfrentar instabilidades emocionais severas. Quando tragédias ocorrem, tudo deve ser feito para amenizar a forma como a situação chega até eles. Até aí, parece que há um consenso na sociedade. Porém, maior do que esse abalo sofre o coração de um adolescente que percebe que seus pais não se amam. Aquela percepção planta uma semente de insegurança no coração dos filhos, que passam a temer uma eventual separação dos pais.
Outra condição que provoca insegurança no coração dos filhos é quando os pais, ou o pai, nunca estão em casa. Eles são privados da provisão emocional, do ensino, da transmissão dos valores e dos conselhos que deveriam vir de seus pais. Quando isso ocorre, a formação dos filhos acaba vindo da escola, da igreja e da sociedade em geral. Quanto à realidade de filhos de pais separados, estes passam a receber o insight só de um dos cônjuges, limitando assim sua forma de ver a vida.
5. Crie um ambiente digno
O caráter cristão e os valores morais se desenvolvem onde a dignidade de cada pessoa é priorizada. A dignidade está relacionada ao respeito, amor e compreensão. Os pais não devem ser distantes e impessoais, mas próximos, acessíveis, que saibam ouvir, encorajar, estimular e consolar. Os filhos só têm a ganhar quando percebem que são amados e aceitos independentemente de seu desempenho. Eles sabem, sim, que seu comportamento pode alegrar ou entristecer seus pais, mas por definição eles não irão rejeitá-los.
Vivemos em uma sociedade altamente competitiva, que não economiza pressões, abusos verbais e físicos, chacotas e insinuações vulgares para tentar denegrir a imagem e debilitar a autoestima de quem luta para encontrar “seu lugar ao sol”. As estratégias visam sempre passar rasteira em quem, de alguma forma, ameaçar. Ou então os que estão à beira do precipício agarram quem estiver mais próximo para não caírem sozinhos. O lar, portanto, deve ser o lugar de refúgio com ambiente seguro, convidativo e alegre, em que se recebe carinho e compreensão para fortalecer no combate e defesa das pressões externas. Mais do que nunca, nossos filhos precisam ser bem acolhidos, valorizados, orientados e amados, para que, uma vez expostos ao mundo em si, possam atravessá-lo tendo como respaldo um ambiente familiar saudável.
Em resumo, cabe aos pais a responsabilidade de comunicar os conceitos fundamentais de caráter cristão e de valores morais aos filhos. Precisamos comunicar-lhes que...
Não somos pais perfeitos, mas vocês podem se espelhar em nós. Vamos fazer todo o possível para sermos modelos positivos.
Vocês não precisam sentir medo de ser o que realmente são. Por favor, não usem máscaras, sejam autênticos. Vocês não correm risco de serem rejeitados quando forem francos e honestos.
Não tenham medo de que nós, seus pais, venhamos a nos
separar. Assumimos entre nós o compromisso de nos amar e de ficarmos juntos até que a morte nos separe.
Vocês são muito especiais para nós. Deus lhes deu dons e talentos próprios e únicos e são insubstituíveis em nossa vida e neste mundo. Nós os amamos incondicionalmente e queremos que vocês desenvolvam o máximo possível seu potencial.
Nós pais estamos conscientes de que precisamos desenvolver em casa um clima que beneficie o desenvolvimento do caráter e cultive em vocês valores saudáveis. Por isso, queremos lhes passar princípios bíblicos de relacionamento, que os ensinarão a se portar e a lidar com as situações da vida.
Por tudo isso, nós pais precisamos cultivar nossa comunhão pessoal com Deus, conhecer seus planos de mutualidade e aplicá-los com sabedoria, força de vontade, jogo de cintura, tato, senso de humor e, acima de tudo, com a graça de Deus, que é o óleo para que essas engrenagens se encaixem e funcionem com menos atrito e mais ajuste.
Jaime Kemp é doutor em Ministério Familiar e diretor do Lar Cristão. Foi missionário da Sepal por 31 anos e fundador dos Vencedores por Cristo. É palestrante e autor de mais de 50 títulos. Casado com Judith, é pai de 3 filhas e avô de 3 netos.
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